domingo, 7 de setembro de 2008

Ótimo texto. Vale a pena refletir e divulgar:

Pessoas e postes ... de Ricardo Lengruber Lobosco (Pastor da Igreja Metodista de Friburgo/RJ)

Nesse tempo de campanha eleitoral, há muito que se observar. Mais importante do que as campanhas explícitas dos candidatos, creio sejam as atitudes que norteiam os passos e as palavras dos mesmos.
É inegável que a lei eleitoral inibiu satisfatoriamente, por exemplo, os exageros irresponsáveis das campanhas. Já não se vê – como antes – ruas sujas por “santinhos”, paredes pintadas e coladas, placas espalhadas por todos os cantos. A poluição visual de uma campanha eleitoral diminuiu significativamente!
Mas tenho me incomodado com algo aparentemente sem importância para muitos. Fico constrangido com tanta gente segurando placas nos semáforos e nas esquinas da cidade. Foi uma maneira de não violar a lei e continuar nos submetendo ao massacre da publicidade desprovida de inteligência.
Se me provarem que são partidários que se interessam por política, acreditam em seus candidatos e trabalham para elegê-los, ficarei menos incomodado. Mas me parecem pessoas pagas para tal ocupação. Pior: parecem-me jovens e idosos (em sua maioria) desempregados que vêem na campanha a chance de ganhar uns trocados para a sobrevivência.
Não há nada de indigno nisso, se visto pelo lado de quem precisa trabalhar e não encontra chance no mercado. Mas se contemplado pelo ângulo de quem almeja um cargo político, a mim diz muita coisa.
Diz, por exemplo, o que pensa esse candidato sobre emprego e trabalho. Se, em campanha, que em geral se maqueia a realidade, o candidato é capaz de expôr um ser humano a horas ininterruptas segurando uma foto sua, imagine o que fará com uma caneta na mão para assinar contratos e acordos que redundem em realidade para a vida das pessoas.
Não posso crer que uma pessoa que usa adolescentes para balançar bandeiras de campanha (sem sequer um sorriso no rosto) seja uma pessoa que verdadeiramente respeite o ser humano!
Não posso concordar que uma campanha dependa de fotos e cartazes para eleger alguém. Campanha publicitária se faz para vender produtos e serviços e para tornar conhecida uma marca. Candidatos devem ser votados por “já” serem conhecidos e acreditados por sua comunidade. Candidatos não são marcas a serem escolhidas. Candidatos são pessoas nas quais acreditamos ou não!
Fico triste em saber que vivo num país em que pessoas têm de se submeter a hastear com seus corpos peças publicitárias. Lamento, porque isso diminui as pessoas e as leva ao lugar aonde trabalho não é sinônimo de produção, de serviço ou de doação. Trabalho passa a ser uma pena!
Preferiria votar em quem me mostrasse em campanha o valor que realmente dá ao trabalho humano, já que essa é uma área que, de modo consistente, pode mudar a vida e a sorte das famílias.
Preferiria votar em quem me convencesse que quer romper com o ciclo de sub-empregos e trabalhos indignos a que tem de ser submetida a maior parcela da população brasileira.
Se tivesse que escolher, preferiria votar em quem usasse postes em lugar de seres humanos!
Aos que precisam dessa ocupação, espero que tenham mais sorte em encontrar uma atividade segura que lhes dê trabalho e renda de forma mais duradoura.
Aos que julgam precisar dessa forma de propaganda para se elegerem, profiro, publicamente, meu lamento e minha indignação!

Em quem vou votar ...

Antes de começar o alarido da campanha municipal, já estou me preparando psicologicamente para decidir meu voto. Por causa disso, passo a refletir sobre o que segue.
Votei quase tantas vezes para presidente quanto minha mãe ou meu pai. Significa dizer que minha geração é bem mais experiente em termos eleitorais do que qualquer outra precedente, que ainda viva! Isso faz ver duas questões complexas: primeiro, a experiência político-eleitoral é muito recente no país; segundo, os vícios das ditaduras são, ainda, perceptíveis.
Daí a urgência de uma reflexão sobre decisões a serem tomadas no próximo pleito. Não que alimente a ilusão de uma mudança expressiva, já que as pessoas que concorrerão aos cargos, ainda que sem saber, carregam as marcas de uma ou duas gerações estragadas politicamente pelos anos de ferro dos governos militares; almejo, somente, cultivar a esperança de dias melhores.
Não desejo entregar meu voto a quem almeja a política como meio de vida. Não gostaria de ser governado ou de ter sobre meus ombros leis propostas por legisladores que galgaram suas colocações por meio de uma “carreira política”. O que significa que quero olhar para a história do meu candidato: no que trabalha? Em que é reconhecidamente bom no que faz? Como é seu nome na praça? Por que acreditar em alguém que só tem como currículo uma “carreira política”? Carreiras se fazem à base de trabalho. Política não é trabalho, é serviço!
Mas não quero confiar meu voto, por outro lado, a quem seja aventureiro na política. Simplesmente porque é “muito conhecido” saiu candidato dada sua popularidade, ou por conta de sua expressividade numa ou noutra área. A história brasileira está eivada de nomes assim; pessoas que vieram à tona graças a um feito de repercussão pública, mas ao se tornarem eleitos, repetem sistematicamente a rotina desoladora da tal “carreira política”.
Meu voto não será dado a quem continuar na postura tão recorrente no país de fazer do palanque eleitoral uma tribuna de acusação da vida e das propostas alheias. Estou cansado da política de competição e de tão pouca proposição. Quero ouvir propostas sérias e consistentes. Quero decidir pelo candidato que me convença argumentativamente. Que me mostre uma análise de estrutura do município capaz de revelar seus entraves; que me esclareça sobre um plano de ação claro e, sobretudo, exeqüível.
Não entregarei meu único voto a quem fizer alianças simplesmente com vistas à eleição. A história recente me mostrou que isso não funciona! O Estado não pode ser mais visto como loteamento político. Não posso mais conviver com a realidade de ver os recursos oriundos dos impostos pagos por mim serem utilizados em pastas governamentais administradas por pessoas incapacitadas para os respectivos cargos. Não posso mais concordar que o que importa é estar no governo. O que importa, na verdade, é ter condições para governar.
Quero empenhar meu voto e minha confiança em quem mostre o rosto de verdade. Em quem me diga a que veio; em nome de quem veio; com que objetivos veio; até onde quer caminhar; o que quer dar de continuidade do que aí está; o que quer deixar de rastro para seu sucessor dar prosseguimento. Não posso mais acreditar em messianismos ingênuos e oportunistas. Não acredito em “salvadores da pátria”!
Quero que meu candidato me diga porque está no seu partido. Primeiro, quero saber que partido é esse: é simplesmente uma legenda para essa eleição? Depois, quero saber quem é esse sujeito na história dessa agremiação política. É claro que no Brasil isso é muito relativo, mas não posso mais votar em pessoas isoladamente; preciso conectar meu voto a quem está com ela e quem ela representa efetivamente. Não posso deixar de investigar os “amigos ocultos” do meu candidato.
Preciso ter a certeza de que meu candidato fará de seu mandato um compromisso com seus eleitores. Permanecerá no cargo até o fim, ou o fará de trampolim para a eleição seguinte? Não posso compactuar, por meio de meu voto, com esquemas para êxitos pessoais ou para ascenção na “carreira política”.
Gostaria de saber quanto meu candidato vai gastar em sua campanha. Se, em campanha, não tiver clareza sobre o uso dos recursos, porque teria confiança em que isso acontecerá depois de eleito? Para decidir com tranqüilidade meu voto, quero saber de onde vêm esses recursos. Quem são seus colaboradores? Por que estão tão interessados em sua eleição? Não posso comungar meu voto com quem não comungo alguns outros valores que considero vitais.
Meu candidato não precisa dominar tudo, mas exijo que ele me convença de que sabe sobre o que está falando, especialmente em termos de administração pública, de saúde e de educação. Não quero mais negociar essas premissas básicas.
Quero ver no meu candidato um engajamento sócio-ambiental sério; que contemple seriamente questões de natureza eco-ambientais. Alguém que saiba do que fala, sem repetir o discurso cansativo dos ambientalistas de plantão!
Vou votar em quem me mostrar que Estado é capaz de dar oportunidades verdadeiras a quem mendiga o pão de cada dia, a quem está por fora da economia; votarei em quem me mostrar que a classe média terá paz para trabalhar.
Não vou votar em quem fizer uma campanha de ruas sujas. Não quero ver o rosto do meu candidato estampado em carros, postes e janelas. Quero me convencer que as pessoas o conhecem e decidiram por votar nele por estarem grávidas de confiança e não porque foram consumidas por sua propaganda.
Parece demais, mas estranho é que tenhamos que reivindicar ainda em 2008 essas premissas básicas de um candidato. Isso deveria ser imposição de lei!
No momento em que escrevo este texto, ainda não sei quem serão os candidatos, por isso escrevo sem medo de tocar em ninguém, mas basicamente meu voto em 2008 exigirá: a) saber em quem estou votando; b) conhecer claramente sua proposta efetiva de trabalho; c) confiar em sua honestidade e d) acreditar que fará algo realmente diferente!

Espero ter em quem votar, realmente!

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